31-03-2017
DE BICICLETA, RUMO A UM FUTURO MAIS SUSTENTÁVEL
Mais baratas, ecológicas e saudáveis do que o automóvel, as bicicletas são o futuro dos meios de transporte nas cidades. Capazes de acolher as mais modernas tecnologias no fabrico e na utilização, prometem contribuir para a sustentabilidade da Humanidade.
Existem três bons motivos para que as cidades que desejem ter um futuro sustentável adotem o uso das bicicletas no seu miolo urbano: é o meio de transporte mais eficiente em tecido urbano; é o mais ecológico e responsável; tem índices de adesão muito interessantes por parte dos cidadãos, que sentem estar a contribuir para um futuro mais sustentável, além de estarem a utilizar um meio de transporte benéfico para a saúde. Os municípios, sendo a entidade com uma ligação privilegiada junto dos cidadãos, devem assumir-se como os principais promotores da utilização da bicicleta em contexto urbano, especialmente quando este meio de transporte está integrado nos demais sistemas de mobilidade citadina.
Com ou sem motores elétricos auxiliares, as bicicletas são veículos eco eficientes por definição e podem facilmente ser integradas nas redes de transportes urbanos, através de esquemas de partilha, cuja base assenta em ferramentas tecnológicas de auxílio à mobilidade - como sejam softwares de geolocalização, ou acesso a pontos wifi.
Os exemplos de cidades que encaram o uso da bicicleta como uma "causa verde" abundam por todo o mundo. Centremo-nos, pois, nos casos em que a aplicação no terreno está mais avançada, como é o caso de Sevilha, Espanha. Em apenas dois anos (de 2007 a 2009), esta cidade da Andaluzia conseguiu atingir a meta dos sete por cento de utilizadores de bicicletas, enquanto, por comparação, a cidade de Portland (Estados Unidos da América) demorou 20 anos...
Sevilha (Espanha) aplicou um programa de incentivo ao uso da bicicleta e, em dois anos, atingiu a meta dos sete por cento de utilizadores, objetivo que em Portland (Estados Unidos) demorou 20 anos...
E qual foi o segredo de tamanha eficácia na obtenção destes objetivos? Em dois anos, foi implementada uma rede de ciclovias com 140 km de extensão e um sistema de partilha de bicicletas, numa rede projetada para ser coesa e na qual os utilizadores são guiados de forma clara e segura em toda a sua extensão. Para aplicar este modelo da forma mais amigável possível para o utilizador, os técnicos locais pensaram numa senhora de 65 anos, com um cesto cheio de compras...
Em Portugal, está em plena aplicação o projeto "Bike Sharing Lisboa", que tem por objetivo promover o uso da bicicleta no centro da cidade. São 1410 bicicletas, em 140 estações, acessíveis através de uma aplicação para smartphones, que permite ao utilizador saber em tempo real saber quantas bicicletas há disponíveis (940 elétricas e 470 convencionais), onde estão, para onde se deslocam e se estão a usar as ciclovias, estando, para isso, equipadas com um sistema rastreador de georreferenciação. Todas as estações de tomada e largada de velocípedes servem como pontos de wi-fi.
Em Lisboa, o uso de uma aplicação para smartphones permite aos ciclistas saberem onde estão, quantas bicicletas há disponíveis e para onde se deslocam, além de poderem beneficiar de vantagens na utilização dos transportes públicos.
Quem usar os transportes públicos vai ter benefícios. O tarifário "será extremamente acessível e discrimina positivamente quem já tem um título de transporte público", como revela João Dias, administrador da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa. E como "quem anda de carro [é quem] paga quem anda de transportes públicos e de bicicleta partilhada", através dos impostos, a Câmara de Lisboa decidiu leiloar o espaço publicitário das bicicletas e das estações. As receitas irão parar a um fundo para financiar melhorias nos sistemas de transportes públicos de Lisboa. Refira-se que foram investidos 29 milhões de euros, incluindo fundos do programa Horizonte 2020.
Por ocasião dos 60 anos dos Transportes Coletivos do Barreiro, foi inaugurada a "TCBikes", sistema público de bicicletas partilhadas, de acesso gratuito para detentores de vários títulos de transporte dos TCB. Dotadas de GPS, as "TC Bikes" estão formalmente integradas na rede urbana de transportes, que transporta mais de nove milhões de passageiros por ano.
Conscientes da importância de seduzir os cidadãos para a utilização de bicicletas em contexto urbano, os fabricantes têm vindo cada vez mais a apostar em sistemas tecnológicos que promovam o conforto e assegurem uma pegada ecológica bem "verde". Na Holanda, país por excelência a nível mundial na utilização de bicicletas como grande meio de transporte (cerca de 27 por cento do total de viagens realizadas são efetuadas através do uso da bicicleta, 59 por cento em contexto urbano), segundo a AICEP - Portugal , os fabricantes aplicam-se cada vez mais no desenvolvimento das bicicletas do futuro.
Marcas como a PBSC, ou a VanMoof, apostam na mais avançada tecnologia para tornar estes veículos cada vez mais sedutores. Além de Bluetooth e GPS (permite saber onde está, evitando furtos), estão equipadas com baterias de última geração, que permitem atingir velocidades na ordem dos 32 kms/hora e percorrer cerca de 120 quilómetros. Para melhor se perceber o tipo de sinergias possíveis, realce-se o fato de a VanMoof ter estabelecido parcerias com a Phillips, a Vodafone, a Panasonic, a BenQ ou a ABUS .
Até os fabricantes produtos para automóveis incentivam a utilização de bicicletas, havendo para tal diversos programas da União Europeia destinados à promoção deste meio de transporte. Portugal já usou 40 milhões de euros...
O mais interessante é que até entidades como a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel incentivam a utilização da bicicleta. "Qual é coisa, qual é ela, que é capaz de melhorar o PIB, a balança de pagamentos, o emprego e a saúde dos portugueses enquanto reduz a poluição, a dependência energética, os acidentes na estrada, as horas passadas no trânsito e as contas por pagar ao fim do mês?" Os incentivos estão disponíveis e a Federação Europeia de Ciclistas estima que os apoios de Bruxelas possam duplicar ou mesmo triplicar no espaço comunitário até dois mil milhões de euros no ciclo 2014/2020. O projeto "U-Bike", do Portugal 2020, disponibilizou cinco milhões de euros às universidades para a aquisição de bicicletas no ano letivo 2016/2017, de um bolo total de 40 milhões de euros, disponibilizados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes.
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