19-11-2016
E SE O TRABALHO DE VOLUNTARIADO DUPLICASSE O SEU PESO NO PIB?
Ser voluntário é estar investido de uma função nobre na sociedade e o seu trabalho deve ser uma mais-valia para a economia nacional: hoje em dia representa um por cento do PIB. Por que não fazer duplicar esse valor e as mais-valias daí resultantes? A chave está na gestão e nas ferramentas disponíveis ao seu serviço.
Ser voluntário é muito mais do que realizar "ações de interesse social e comunitário". É estar investido de uma função nobre de ajuda ao próximo e de, muitas vezes, substituir o papel que compete ao Estado Social na ajuda ao processo de (re)integração dos mais carenciados. O voluntário pode ser a alavanca de que a sociedade necessita para se tornar mais justa, mais igualitária, sob a forma de projetos, programas e outras intervenções, ao serviço das pessoas, das famílias e da comunidade em geral.
De acordo com o INE (Instituto Nacional de Estatística), no Inquérito ao Trabalho Voluntário 2012, existe mais de um milhão de portugueses envolvidos em ações de voluntariado e o seu trabalho representa um por cento do Produto Interno Bruto.
Trata-se de uma fatia significativa da população nacional, que despende parte do seu próprio tempo a favor do bem-estar dos outros e que merece mais reconhecimento público. Esse trabalho é feito na sombra, longe dos holofotes dos media ou das redes sociais, pois está associado ao auxílio de pessoas carenciadas, não sendo encarado genericamente como gerador de valor acrescentado, nem por parte das empresas, nem, por exemplo, dos municípios.
Para dar uma ideia de grandeza, a AutoEuropa, o maior exportador nacional, representa 1,1 por cento do PIB (Expresso, 4 de Outubro de 2015). Praticamente o mesmo que o trabalho de voluntariado, com a vantagem de este exercer influência direta sobre uma camada imensamente maior da população portuguesa. É, portanto, uma atividade com um peso decisivo na economia nacional.
O trabalho de voluntariado pode e deve ser valorizado, para que o seu esforço resulte em dividendos concretos para todos. Imagine-se os ganhos que a economia portuguesa receberia se o trabalho de voluntariado fosse alavancado para um patamar superior, se em vez de representar um por cento do PIB esse valor fosse duplicado... Há claramente muito por fazer na geração de mais-valias para a sociedade e, bem assim, para a economia nacional.
O trabalho do voluntariado representa um por cento do PIB. Imaginemos os ganhos para a economia nacional se esse valor fosse elevado para o dobro... O voluntário tem de ser o protagonista de uma nova sociedade, em que o seu trabalho seja projetado para a real dimensão da sua influência.
Como reverter esta situação? O que fazer para tornar o voluntariado uma expressão do léxico comum? Um dos caminhos passa pelo incentivo a uma maior pró-atividade dos municípios, afinal de contas as entidades decisórias mais próximas dos cidadãos e aquelas que melhor podem interpretar as necessidades e os anseios dos mais carenciados. É dentro do perímetro das autarquias que se consegue gerar mais e melhor valor para a sociedade, podendo os voluntários ganhar a dimensão de líderes de grupo junto das pessoas mais carenciadas a vários níveis de atuação - idosos em isolamento, crianças em risco escolar, doentes e acamados, serviços de bombeiros, na recolha de alimentos e donativos, na limpeza de espaços...
Mas é preciso ter ferramentas próprias para uma gestão eficaz das ações, do tempo e das pessoas que prestam trabalho de voluntariado. O processo parece nem ser muito complicado e a Câmara de Lisboa é um bom exemplo, através do "Banco de Voluntariado". O serviço foi criado em 2012 com o objetivo de estabelecer a ligação direta entre a oferta e a procura de oportunidades de voluntariado na cidade, através da sua divulgação, do recrutamento de voluntários e do seu enquadramento em projetos e iniciativas várias. O que a autarquia ofereceu em troca foi formação inicial e contínua, um seguro, possibilidade de se ausentar do trabalho em caso de emergência quando convocado pelo serviço de acolhimento e entrada gratuita em atividades culturais, desportivas e outras promovidas pelo município.
Como gerir pessoas e os bancos de tempo? Há projetos como os "Voluntários de Leitura" que reúne diversas entidades - uma câmara municipal, uma universidade, três fundações e um observatório - num mesmo propósito. Com bons resultados.
Outro caso de sucesso é o projeto "Voluntários de Leitura", levado a cabo pela Câmara Municipal de Loures (www.cm-loures.pt), nascido em 2012 pelo CITI - Centro de Investigação para Tecnologias Interativas, da Universidade Nova de Lisboa. O intuito foi o de criar uma rede nacional de voluntariado na área da promoção da leitura, envolvendo entidades como a Fundação Calouste Gulbenkian, a rede Aga Khan para o Desenvolvimento, Montepio Geral e o Observatório da Língua Portuguesa - em parceria com a RBE, Plano Nacional de Leitura, Rede de Bibliotecas Públicas, Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e autarquias. Em Loures, foram registados 23 voluntários em ações concretas.
Os dados sobre o trabalho de voluntariado em Portugal não estão sistematizados e não existe uma fonte única de informação, bem como metodologias harmonizadas de análise. Por isso, torna-se imperioso aplicar sistemas de gestão de dados, que permitam uma maior eficácia do trabalho dos voluntários e das ações promovidas, para que haja mais retorno. As ações de voluntariado corresponderam a cerca de quatro por cento do total de horas trabalhadas, ainda segundo o estudo do INE...
Não existem dados sistematizados acerca do trabalho de voluntariado em Portugal. É importante aplicar sistemas de gestão de informação, que levem a uma maior eficácia das ações levadas a cabo.
Nas sociedades modernas, existem todas as condições para que as organizações ajudem as pessoas e que o trabalho de voluntariado seja mais eficaz. E se as organizações querem manter-se competitivas e desempenhar o papel a que se propõem, a questão não é a de saber se as vão utilizar, pois não existe escolha, mas antes como é que as vão utilizar.
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