08-11-2015
AS NOVAS FONTES DE RENDIMENTO
Quanto custa o meu trabalho? Quanto vale a utilidade do meu serviço? Voltar às origens, pode dar lucro? Estas questões estão por detrás de muitos dos negócios que floresceram nos últimos anos. Entre os mais visíveis estão os novos vendedores das feiras de produtos naturais ou de produção caseira que se multiplicam e ganham adeptos. Outros são as propriedades de família transformadas em pequenas unidades turísticas e agrícolas que geram lucro e emprego.
Nos últimos anos assistiu-se ao reinventar de uma série de atividades que estavam a extinguir-se, ou que não eram devidamente exploradas e que vieram ocupar uma faixa de mercado que tem, sem qualquer dúvida, espaço para crescer.
As feiras temáticas - do azeite, dos frutos secos, de artesanato, de gastronomia, que aconteciam apenas de forma esporádica e quase invisível são agora frequentes, ocorrem de forma organizada e são sobretudo a "montra" e a forma de escoamento de produtos únicos para os quais os seus produtores tinham um espaço limitado ou quase inexistente de venda.
Os municípios e as associações regionais perceberam que, ao apoiar e incentivar a organização deste tipo de mercados, estão a valorizar as suas regiões de várias formas, além de contribuírem para o desenvolvimento económico das mesmas.
Os municípios e as associações regionais perceberam que, ao apoiar e incentivar a organização deste tipo de mercados, estão a valorizar as suas regiões de várias formas, além de contribuírem para o desenvolvimento económico das mesmas.
Os mercados temáticos e as feiras sociais apoiadas pelas autarquias tornaram-se eventos turísticos, altamente publicitados, com retorno financeiro quer para quem as organiza quer quem nelas vende os produtos.
Atualmente, o antigo e o novo competem lado a lado como "montra" de venda desses produtos em grande parte derivados do setor primário. As feiras rivalizam com as novas tecnologias e as redes sociais na forma de publicitar e de vender os produtos, que com a mesma naturalidade se encontram num mercado e no comércio online.
Estes espaços abertos substituem para muitos dos que nelas vendem, as lojas no formato tradicional com os encargos financeiros indiferentes ao resultado das vendas, e têm a capacidade de chegar a públicos distintos e distantes com a mesma facilidade.
Os mercados ocasionais assim como as vendas na Internet, no formato comprador versus vendedor - que é ao mesmo tempo quem produz o artigo, constituem um novo modelo de valorização e de sustentabilidade económica mais pequeno, mais familiar e mais próximo das necessidades das pessoas. Devidamente estimulado, este modelo incentiva a inovação em qualquer das áreas de atividade, no contexto da nova economia social.
A ideia de que a economia deve ser pensada em função das pessoas e de forma a servi-las está também a mudar a forma de planeamento dos negócios e das empresas, fazendo surgir novas oportunidades. Um exemplo é a consciencialização da por parte da sociedade de que é possível aproveitar melhor os recursos disponíveis. O restauro do velho em novo, o reaproveitamento de materiais ou o regresso à agricultura, mas agora de produtos agrícolas alternativos e mais saudáveis, passaram a ser oportunidades de negócio e de lucro para as famílias organizadas em micro empresas.
Um retrato das novas possibilidades pode ser o seguinte: Um casal cansado do stresse da capital regressou aos Açores onde um dos elementos tem uma velha propriedade familiar. Com o apoio de fundos comunitários reabilitaram o espaço e transformaram-no numa horta de cultivo de produtos diversos mas incomuns na região e têm já uma rede de clientes que compra cabazes personalizados de legumes entregues em casa. Como havia excedentes de produção, passaram a cozinhar comida para fora, a fazer compotas e a organizar ateliers de culinária, atividades que diversificaram e acrescentaram ao rendimento obtido na empresa familiar.
O que está suceder no novo modelo económico é que as pessoas estão a descobrir que há novas etapas na cadeia de produção que podem ser somadas, criando novos empregos e novas necessidades por parte do público.
O que está a suceder no novo modelo económico é que as pessoas estão a descobrir que há novas etapas na cadeia de produção que podem ser somadas, criando novos empregos e novas necessidades por parte do público.
Neste campo, as autoridades nacionais e locais têm uma margem de intervenção no incentivo deste tipo de atividades quase infinito. Por um lado podem criar as iniciativas e espaços onde empresas, como esta ou outras, são dadas a conhecer e são referenciados a nível local. Por outro, as autarquias podem e devem servir de intermediários ao desenvolvimento estruturado do negócio em termos de orientação da cultura empresarial, através de formações em áreas como o empreendedorismo. Mais ainda, cabe às autoridades públicas divulgar a existência e o processo de candidatura aos vários fundos comunitários que Bruxelas colocou à disposição das micro e pequenas empresas ou empresas que se enquadram na chamada economia social.
A União Europeia (UE) incentiva largamente o modelo económico que dá primazia aos objetivos individuais e sociais sobre os do capital, porque "gera emprego e qualidade de vida e novas formas de empresas, trabalho e responsabilidade de consumo". Entre as possibilidades estão desde cooperativas, a sociedades mutualistas, a associações sem fins lucrativos, entre outras, que operam nas mais distintas áreas comerciais e que geram milhões de empregos em toda a UE.
A Comissão Europeia estima que a economia social esteja a dar emprego a cerca de 11 milhões de pessoas na UE, 6% da totalidade de emprego, mas o seu objetivo é o de que este valor aumente.
No quadro da estratégia Europa 2020, os fundos europeus estruturais e de investimento serão, pela primeira vez, diretamente mobilizados para projetos na área da inovação e empreendedorismo social que estimulem o aparecimento de soluções inovadoras que respondam aos problemas atuais da sociedade. As candidaturas, em Portugal, aos fundos que incentivam a inovação social arrancam em setembro de 2015.
A avaliação do trabalho das autarquias está em muito relacionado com a sua capacidade de atrair investimento para as suas regiões, o que, por sua vez, depende do tipo de incentivos oferecidos por essa autarquia ou região. Esses incentivos podem passar pelo encurtamento da distância entre a empresa e o financiamento - nomeadamente o europeu - de que esta necessita para a sua sobrevivência e para a criação de emprego. A probabilidade é a de se gerar um círculo virtuoso de desenvolvimento quer para a empresa apoiada quer para o concelho.
Os modelos de sustentabilidade económica e de obtenção de rendimento estão a mudar e requerem criatividade e inovação no domínio social por parte de todos os agentes económicos. O chavão "go local" inicialmente utilizado pelos mais ambientalistas no sentido de consumirmos bens produzidos nas proximidades para evitarmos custos acrescidos e poluição desnecessária, foi emprestado a outras áreas da sociedade.
Agora, os negócios de proximidade e os produtos regionais são mais valorizados e chegam a ganhar a amplitude de uma marca, não só o produto, mas a região onde esses são produzidos. E isso vale dinheiro.
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